Cairo Junqueira, professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe, abre as apresentações do “20 horas de Literatura – 20 palavras, 20 autores” em comemoração aos 20 anos da Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto. Ele fala sobre “Globalização”, uma palavra de grande impacto no mundo todo, que afeta o modo de vida de cada indivíduo. “Para entender o que a globalização representa é preciso entender que o termo é plural, múltiplo e interdisciplinar.”

A governança, tanto na gestão pública como corporativa, é uma cobrança da sociedade de nossos tempos por resultados transparentes de suas atividades. Para se aprofundar no sentido de todos os seus significados, acompanhe a apresentação de João Luiz Passador, professor titular do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – FEA-RP/USP: “A governança tem íntima relação com o tempo, lugar e a historicidade que a cerca, especialmente aos padrões éticos e gerenciais, entendidos como corretos e aceitos por todos.”

Como se identificar num mundo com tantas transformações sociais, políticas e econômicas que desestabilizam estruturas consideradas imutáveis? Lilian Rosa, historiadora e presidente do Instituo Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais, discute a identidade como uma das grandes questões da atualidade. “A identidade despontou como protagonista de debates e políticas públicas nas mais diversas áreas.”

Quando se se fala de humanização aplicada em diversas atividades, uma questão se apresenta: o ser humano ainda precisa evoluir muito. “Humanização” é a palavra que César Nunes, filósofo e educador, professor da Unicamp, coordenador do Grupo de Pesquisa Paideia, traz para o centro do evento. De tanto utilizada, a palavra parece banalizada, esvaziada do seu verdadeiro significado. Para recuperá-lo, César Nunes é categórico: “Não se reconhece a possibilidade de definir o conceito de humanização se não houver, como ante causa, a busca de definir ou de compreender o que se tem como próprio da identidade humana.”

Não há um dia em que a palavra corrupção não apareça nos noticiários. Ela está tão presente que parece impossível vencê-la. Para Cristiano Pavini, jornalista e coordenador do Instituto Ribeirão 2030, o combate à corrupção não pode ficar restrito às operações policiais e ações penais. “Esse é um protagonismo que a sociedade deve exercer, com o controle social empoderado pela transparência nas informações públicas.”

Marcelino Freire faz a abertura do segundo dia de apresentações do “20 horas de Literatura – 20 palavras, 20 autores” em comemoração aos 20 anos da Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto. Ele é autor de “Angu de Sangue”, “Contos Negreiros” (Prêmio Jabuti) e Nossos Ossos” (Prêmio Machado de Assis). Marcelino traz para o debate a palavra “Protagonismo”, cujo significado hoje vai além da literatura e estende para outras áreas da vida do indivíduo. Mas o que é ser protagonista? “Protagonista. Aquele que exerce o protagonismo”, define o escritor. E você, é ou não é protagonista da sua história?

Daniel Munduruku é escritor e professor, indígena do povo Munduruku, autor de 52 livros para crianças, jovens e educadores. Não tinha intenção de ser escritor, mas gostava de contar histórias e a partir daí passou a registrar as narrativas de seus ancestrais, relacionadas aos animais, aos recursos naturais e da sua cultura. Um envolvimento que tem tudo a ver com a palavra que traz para este evento: “Sustentabilidade”, que conhece tão bem pela própria vivência. Ele comenta: “É da natureza do ser humano colocar-se acima das outras coisas. Um erro que lhe custa caro.”

Juliana Bigatão, professora do Departamento de Relações Internacionais da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Unifesp, traz para o evento a palavra “Terrorismo” e vai avaliar as diferentes formas como ele vem sendo adotado, os seus significados e o impacto desses atos no público. “Desde o início do século XXI, somos cotidianamente expostos a diversos noticiários sobre ataques terroristas, seja nas áreas mais ricas do mundo ou na chamada periferia do sistema internacional.”

Num mundo onde as pessoas estão cada vez mais isoladas em si mesmas, será que há espaço para alguém se sentir no lugar do outro. A psicóloga Mafoane Odara coloca no centro do evento a palavra “Empatia”. Ela é especialista em questões relacionadas a direitos humanos e redução de desigualdades, colunista da revista Marie Claire e gerente do Instituto Avon. Para Mafoane, a empatia ajuda a compreender por que algumas pessoas se disponibilizam a ajudar quem precisa. E você, como está a sua empatia?

O deslocamento de refugiados pelo mundo não para de crescer. Diversos são os motivos para milhares de pessoas deixarem suas terras e buscarem um novo lugar para sobreviver. A palavra de Diego Merigueti é “Refugiado” que traz embutido muitos significados recentes, que vai procurar apresentar no evento. “Quando lemos ou ouvimos a palavra refúgio, nosso inconsciente já desperta para uma outra percepção, em decorrência da extensão de significados pela qual o termo passou nos últimos anos.” Diego é advogado, coordenador do setor de Proteção Legal do Centro de Referência para Refugiados da Caritas Arquidiocesana de São Paulo.

A dificuldade de reconhecer diferenças para manter uma convivência pacífica entre as pessoas nunca foi tão evidente como nos dias atuais. Qualquer que seja a área, essa dificuldade se manifesta de forma surpreendente e, muitas vezes, violenta. Para definir essa atitude, Patrícia Teixeira Santos, professora associada do Departamento de História da Universidade Federal de São Paulo, fala de “Intolerância”, a palavra que ela traz para este evento e apresentar as origens de tanto radicalismo acumulado recentemente. “A perspectiva da intolerância emerge com muita força nos ataques e contra-ataques políticos nos primeiros dez anos do século XXI no cenário internacional”, aponta Patrícia.

A democracia corre risco? É uma questão que preocupa muita gente, não só no Brasil como no mundo todo. Para saber melhor por que essa palavra ganhou tanta notoriedade, acompanhe a definição de “Democracia” que Renato Janine Ribeiro apresenta neste evento. Ex-ministro da Educação, professor titular de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo e autor de vários livros, Renato Janine tem uma visão pessoal: “Já afirmei em outros lugares que democracia é um significante imã, querendo dizer: é uma palavra que atrai outras.” Seja você também atraído por este imã.

Uma sociedade mais justa e igualitária é possível pela mobilização que uma palavra pode produzir. “Cidadania”, a palavra tema escolhida por Sandra Molina para sua apresentação neste evento. Historiadora, escritora e professora da Universidade de Ribeirão Preto, ela acredita que a palavra vem ganhando mais força: “Gerações de brasileiros aprenderam nos bancos escolares e nos almoços de família que cidadania é o exercício de deveres e a exigência da efetividade dos direitos.”

A palavra “Empoderamento” deu significado para muita gente. Para Amara Moira foi a afirmação da sua identidade e agora ela vem compartilhar sua vivência com o público neste evento. Definindo-se como travesti, feminista, professora de literatura e autora do livro autobiográfico “E se eu fosse puta”, Amara Moira tem muitos lados do empoderamento para revelar: “É como se, uma vez travesti, já não me fosse possível ler as obras senão a partir dessa perspectiva.”

Como as pessoas tomam decisões nas suas vidas? Tranquilas ou sob pressão? A professora Marlene Trivellato Ferreira, coordenadora do curso de Pedagogia do Centro Universitário Barão de Mauá e uma das autoras do livro “Seis passos para uma cidade humana”, vai apresentar os significados da palavra que define bem essa situação: “Resiliência”. Uma definição próxima seria a capacidade de alguém encarar problemas e superar desafios com serenidade. Para a professora, muitas pessoas enxergam mais as dificuldades: “Passamos a maior parte de nossas vidas distraídos em relação aos resultados positivos, que se fazem presentes, apesar de condições desfavoráveis”, explica Marlene.

É possível romper subitamente com tudo e começar algo novo? Adriana Silva, escritora, educomunicadora e também pesquisadora na área de Identidades Culturais, vai discorrer sobre os significados da palavra que define essa vontade: disruptura. Uma palavra nova que reflete os anseios de mudança das pessoas de hoje, no ritmo acelerado imposto pelas inovações tecnológicas. Pode ser um desejo de muitos, mas Adriana Silva alerta: “Um texto permite muitas interpretações, mas não todas. A palavra disruptura também.” Qual o melhor significado que essa palavra pode trazer para sua vida?

Os neologismos gerados pela internet não param de surgir mas nenhum supera o verbo googlar, ato de pesquisar nas páginas de busca do Google para esclarecer qualquer dúvida. Basta apertar um botão e as respostas instantaneamente aparecem na tela. Por isso, quem usa, vira dependente. Quem fala sobre “Googlar” é Guilherme Nali, jornalista e historiador, editor e apresentador da EPTV Ribeirão. Para ele, a expressão “googlar” se incorporou completamente na vida das pessoas, muito além do que elas possam imaginar.

O jornalista Murilo Pinheiro, editor e diretor de redação da revista Revide, adotou para o evento a palavra mais popular na internet: “Selfie”. Um fenômeno moderno que movimenta as redes sociais, mexe com as pessoas sempre atentas em registrar o “momento”. Quem ainda não fez uma selfie? Com seu olhar de cronista, Murilo observa esse comportamento: “A busca pelo ângulo perfeito e o registro inédito fizeram com que algumas pessoas perdessem a noção e o bom senso”.

Fake news é o termo do momento e até uma legislação está sendo discutida para combatê-la. A força das fake News está em parecer como verdade aos olhos de quem só faz leitura superficial daquilo que lê. Lucas Galon, compositor, multi-instrumentista, regente e escritor, diretor da Academia Livre de Música e Artes – Alma, fala da extensão de significados da palavra “Fake News”, das desinformações que elas propagam e alerta: “O olho que não fixa o olhar está condenado a não ver nada e a suspensão da capacidade de apreensão de conteúdo é também a suspensão da capacidade de julgamento.”

Na era das ressignificações, a palavra “Agenda” ganha o sentido mais amplo de comprometimento. É esta palavra que o jornalista e escritor Galeno Amorim traz para o encerramento do evento “20 horas de Literatura – 20 palavras, 20 autores” em comemoração aos 20 anos da Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto, da qual foi seu criador. Galeno Amorim foi secretário da Cultura de Ribeirão Preto, presidiu a Biblioteca Nacional e o Cerlalc/Unesco (Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e no Caribe): “Ter uma agenda em comum permite nortear os grandes debates, amplifica entendimentos e leva a concertações que criam condições necessárias para promover o progresso da civilização.”