‘Resiliência é pensar no quanto podemos nos ajudar e ajudar ao próximo em uma cadeia de cocriação’
Marlene Trivellato Ferreira, psicóloga, professora titular do Centro Universitário Barão de Mauá e pesquisadora do Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais (IPCCIC), fala como a resiliência tem sido vista a partir de uma ótica muito dualista, em que o indivíduo ou nasce com essa característica ou morre sem ela. Mas, para ela, a capacidade de adaptação atravessa uma noção forte de coletividade Trivellato Ferreira, psicóloga, professora titular do Centro
Nessa quinta-feira (17/9), a psicóloga e professora Marlene Trivellato Ferreira participou do evento “20 Horas de Literatura” para analisar a palavra “Resiliência”. Marlene critica o uso que se faz hoje do termo, estando muito associado a uma ideia estática e determinante sobre um determinado indivíduo, ao invés de algo que se constrói em cada pessoa e a partir de uma rede de apoio. A palestra 100% digital faz parte de um circuito de debate promovido pela Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto, em parceria com o Sesc SP e a Prefeitura Municipal da cidade. O evento na íntegra será promovido até essa sexta-feira (18/9).
Tanto Marlene como a cantora e jornalista Fernanda Marx tiveram suas imagens transmitidas diretamente do palco do Theatro Pedro II (local onde a Feira Internacional do Livro é realizada anualmente), mas desta vez com plateia online em função da pandemia de Coronavírus. Fernanda foi responsável por mediar a discussão, que foi transmitida pelas várias plataformas digitais da Fundação.
“O indivíduo não é resiliente por si só”, introduz Marlene, quando perguntada sobre o significado dessa palavra. A professora titular do Centro Universitário Barão de Mauá tem uma longa experiência como coordenadora de escolas de educação Infantil e fundamental, e docência na área da Psicologia do Desenvolvimento e Tratamento e Prevenção Psicológica. Com base em seus estudos e vivências, afirma que, na verdade, a resiliência não funciona em uma ótica dual: “No senso comum, o termo é muito mal utilizado, porque ele entende a resiliência como um atributo fixo do indivíduo, ou seja: ou você é ou você não é resiliente. Está aí o grande problema, porque, na verdade, ela depende de vários fatores externos”.
Para a psicóloga, o indivíduo tem, sim, um papel importante dentro do seu processo de adaptação às diversas realidades, tanto a partir de seu empenho como de sua motivação. Mas o resultado desse desenvolvimento está relacionado também com o cenário ‘macro’: com a cultura, com as relações interpessoais em que esse indivíduo está inserido. “Todo o conjunto nos afeta”, afirma.
Esse conjunto não diz respeito apenas a relações mais imediatas entre indivíduos. A professora diz que é possível aplicar a resiliência a toda uma cidade. “Isso é algo que eu trabalho bastante com o Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais aqui de Ribeirão Preto. Essa ideia de que, quando nós todos estamos compromissados com o outro, podemos ajudar a proporcionar as condições para a subsistência dele. Podemos olhar para o indivíduo e identificar suas potencialidades”, conta. A resiliência, para Marlene, tem uma relação muito forte com a capacidade não só do indivíduo, mas também de sua própria cidade de acolhê-lo e mostrar a ele como pode se adaptar a novos meios.
Na própria pandemia, momento com dificuldade de adaptação para todos, Marlene percebe muito espaço para exercer resiliência. “Nessa condição em que a gente vive hoje, estressante, que gera angústia e pânico… a família pode ter um papel fundamental de ajudar, de tranquilizar. Não passamos por isso sozinhos, precisamos do outro”, lembra. Para ela, a iniciativa de olhar para as possibilidades e enxergar saídas é essencial em momentos como esse. “Precisamos ver as potencialidades no outro para sermos éticos, justos. É uma maturidade que precisamos assumir. Precisamos entender que fazemos parte daquilo”.
A ação “20 Horas de Literatura” é promovida até sexta-feira (18/9) pela Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto, em parceria com o Sesc SP e a Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto. As palestras 100% online de 20 autores convidados para falar sobre 20 palavras relevantes para o Brasil e o mundo nas últimas duas décadas têm transmissão ao vivo pela plataforma de conteúdo da Fundação (www.fundacaodolivroeleiturarp.com) e por suas redes sociais, como Facebook e YouTube. Toda a agenda conta com profissionais especializados em tradução e interpretação em Libras.
O evento é uma ação comemorativa aos 20 anos da FIL (Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto). Os interessados em participar da programação podem ainda se inscrever pela plataforma e ao final do evento vão receber certificado online de participação.
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