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Para a ciberativista Triscila Oliveira, “o trabalho doméstico tem cor e gênero”

Resistência, racismo, preconceito e o poder das redes sociais foram alguns dos assuntos que a roda de conversa com a escritora trouxe. Sua recente obra, "Confinada", também esteve no centro das discussões


No Dia da Literatura Brasileira (01/05), o Revolução Poética na Fábrica de Ideias, promovido pela Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto e Instituto SEB – A Fábrica, começou com uma roda de conversa com a ciberativista Triscila Oliveira – autora, ao lado de Leandro Assis - da HQ "Confinada" – obra que escancara as desigualdades enraizadas na história do Brasil ao colocar lado a lado, durante a pandemia, as personagens Fran (uma influenciadora digital) e Ju (uma empregada doméstica), em um confinamento expondo racismo e interesses econômicos que alimentam a injustiça social. O encontro foi mediado por Jéssica Machado, cientista social pela Unesp de Marília e criadora do projeto Negras Ginga.


"Confinada" foi um dos lançamentos de 2021, considerado o mais relevante no mercado de HQs nacionais e tornou-se livro no início de novembro pela Editora Todavia. A obra é um relato da dor de viver no Brasil nos anos de 2020 e 2021, durante a pandemia, em especial para as classes mais marginalizadas. “Nos inspiramos em todos os episódios da pandemia, principalmente na falta de humanização das pessoas que tinham o privilégio de ficarem confinadas, mas que não queriam seguir sua rotina de luxo em casa. Por outro lado, os profissionais que estavam na linha de frente, que precisavam realmente trabalhar, foram desvalorizados. Isso conta a história do nosso país que não remunera dignamente os trabalhadores dos serviços essenciais que contribuem para que o País continue funcionando”, alertou a escritora em pleno Dia do Trabalho, também comemorado na data.


Conflitos de classe

Ao falar sobre “Confinada”, Triscila Oliveira detalhou as etapas de todo o enredo do livro – centrado no confinamento da patroa e empregada e na exaustão de um dos personagens a cada episódio - desde o confinamento, a contaminação por Covid-19, a demissão e todo o “perrengue” que a personagem vive e, claro, o protagonismo que ela ganha no final do livro. “O trabalho doméstico a gente sabe muito bem. Tem cor e tem gênero. São pessoas que vão morar no trabalho e ficam à disposição 24 horas para servir uma família, vendendo seu tempo sem viver com sua própria família. Não há nada mais colonial no Brasil do que isso”, desabafou.


Racismo

“Vivemos diariamente vendo nossa dor sendo comercializada, mas nossa alegria nunca é valorizada”, disse Triscila ao comentar o enredo do livro – o puro racismo. Para ela, a existência das pessoas pretas é combatida, exemplificando a diferença de uma pessoa branca e uma negra ao relatar sua existência nas redes sociais. “Vivemos em um país preconceituoso e racista, onde uma pessoa abertamente preconceituosa, ganha fama. Nós, que falamos de racismo todos os dias, vivemos um forte enfrentamento online. A nossa dor viraliza. Toda vez que uma pessoa preta mostra que ela é humana – o que sente, o que ela vive, que ama ou chora - as pessoas simplesmente não gostam. Mas, se você resolver “repostar” sobre a dor do racismo, ela vira entretenimento, ou seja, nossa alegria sempre é combatida”.


A agenda do Revolução Poética na Fábrica Literária contuo com oficinas, conversas literárias, debates e atividades artísticas. O evento trouxe a proposta de revolucionar a poesia na contemporaneidade, reunindo artistas da atualidade a partir de seis poetas significativos da história da literatura brasileira: Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Cora Coralina, Ferreira Gullar, Manoel de Barros e Paulo Leminski. Foram cinco dias de atividades intensa e gratuita, com a participação de 14 autores e programações artísticas variadas.


O bate-papo completo com Triscila Oliveira pode ser conferido no canal no Youtube da Fundação.

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