‘Vocábulo ecoa há 520 anos no Brasil’
Jornalistas fazem resgate do primeiro caso de degradação moral registrado no Brasil, com carta de Pero Vaz de Caminha, até os recentes exemplos dos efeitos de uma das palavras mais citadas nos noticiários da atualidade
João Carlos Borda e Cristiano Pavini
O debate sobre a palavra corrupção fechou a noite do primeiro dia (14/9) do evento “20 Horas de Literatura” na ótica do jornalista Cristiano Pavini, coordenador do Instituto Ribeirão 2030. A conversa sobre o tema começou com um registro histórico do primeiro exemplo registrado do vocábulo no país. O mediador e jornalista João Carlos Borda lembrou em sua abordagem que, no dia 1º de maio de 1500 ela já foi praticada: quando Pero Vaz de Caminha escreveu para o Rei de Portugal, Dom Manoel, relatando o país que tinha sido encontrado: o Brasil. Na oportunidade, Caminha solicitou que fosse aliviada a questão de seu genro, Jorge de Osório, que se encontrava preso na África por conta de um assalto à mão armada.
Cristiano Pavini mostrou que a palavra vem sendo polarizada e, segundo uma pesquisa sobre corrupção que realizou nos principais jornais do país (Folha de São Paulo, Estadão e O Globo), ele garantiu que a encontrou em todas as edições das últimas duas décadas. “Podemos dizer que a corrupção está aparecendo cada vez mais em nosso cotidiano. Não agora, mas nesse contexto de 20 anos para cá”, comenta.
O jornalista destacou a Lava Jato como principal movimento anticorrupção do Brasil e analisou a importância desta ação no sentido de revelar os principais esquemas por todo o país. Na visão de Borda, a operação escancarou a corrupção. “Nós desconhecíamos ou especulávamos e não tínhamos a dimensão de como isso poderia ocorrer num plano municipal, como a Sevandija”.
Pavini fez também uma análise da maior operação de combate à corrupção já registrada em Ribeirão Preto - a Sevandija - e a intitulou de “Lava Jato Caipira”, lembrando que o movimento revelou que cerca de R$ 200 milhões tenham sido retirados dos cofres públicos da cidade e destinados a interesses pessoais.
Sobre o papel do jornalista em meio a uma investigação de corrupção, Pavini explicou que os profissionais sempre correm o risco de subjetivar uma operação e generalizar toda a classe política. “Mas por outro lado, se não denunciamos, como que fica? É muito complicado para a imprensa esse papel, porque ficamos nessa sinuca”, comentou.
Pavini ainda brincou, que daqui 20 anos gostaria de voltar à cena do debate, mas, quem sabe, com outra palavra – não mais “corrupção”, mas “transparência”, “governo aberto” ou ainda “controle social”. “Gostaria que o termo fosse outro, porque a mudança não vai acontecer de um ano para o outro. Mas são gerações e gerações que têm de ser alfabetizadas no combate à corrupção”, explicou o jornalista.
20 Horas de Literatura
As palestras de 20 autores convidados para falar sobre 20 palavras relevantes para o Brasil e o mundo nas últimas duas décadas têm transmissão ao vivo pela plataforma de conteúdo da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto (www.fundacaodolivroeleiturarp.com) e por suas redes sociais, como Facebook e YouTube. Toda a agenda conta com profissionais especializados em tradução e interpretação em Libras, com apoio da Secretaria de Educação de Ribeirão Preto.
O evento, que acontece até a próxima sexta-feira (18), é uma ação comemorativa aos 20 anos da FIL (Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto). Os interessados em participar da programação podem ainda se inscrever pela plataforma e ao final do evento vão receber certificado online de participação.
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