‘Não há identidade sem diferenças’
Lilian Rosa, historiadora e presidente do Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais (IPCCIC), explicou que as duas palavras andam lado a lado para que exista diversidade na sociedade.
O terceiro painel do primeiro dia do evento “20 horas de Literatura”, contou com a participação da historiadora e presidente do IPCCIC, Lilian Rosa, e mediação de Antonio Costa, professor da IEA-USP para uma reflexão sobre a palavra “Identidade” – uma das 20 escolhidas para representar pensamentos e ideias impactantes nos últimos 20 anos. Na abertura do painel, a Fundação do Livro e Leitura exibiu o vídeo com a performance da Academia Livre de Música e Artes (ALMA-RP) com encenação artística para o termo.
A reflexão de Lilian Rosa começou instigada pelo mediador, que explicou o vocábulo atrelado ao seu conceito baseado no dicionário. Antonio Costa frisou que identidade representa um conjunto de características próprias e exclusivas de um indivíduo; além de citar o termo alusivo à consciência da própria personalidade e, por último, destacou que o termo se traduz por uma coisa que seja da mesma natureza que outra.
A historiadora relatou o significado da palavra atualmente e, para ela, não existe identidade sem as diferenças. “Sempre quando nos perguntam ‘o que é você? ’, a resposta é rápida e imediata: humano. Já na pergunta ‘quem é você? ’ já não vem fácil e tem uma tendência a nos caracterizar pelas identidades pessoais e coletivas, pelas quais navegamos ao longo da vida”, explicou Lilian.
A palestrante destacou que as definições que a sociedade coloca sobre determinada pessoa podem ser definidas como identidade. “No processo de autoidentificação, eu sempre me baseio no outro, na diferença e olhar que me identifico no outro. A minha identidade não existe então, se não há a diferença no outro”, completou. Lilian ainda esclareceu que há um processo contínuo de aceitação e rejeição de definições e ideias atribuídas à palavra.
Durante sua abordagem, a pesquisadora citou o sociólogo e filósofo polonês, Zygmunt Bauman, e trouxe para o público do evento online uma outra explicação, a de identidade de guarda-roupa. Mas afinal o que é isso? Segundo ela, é quando se escolhe uma identidade por um breve momento. E exemplificou situações que aderem a este conceito: um torcedor de futebol quando extravasa toda o sentimento que tem por uma equipe. Um defensor de uma causa que sustenta toda a angústia e pensamentos. “E vou trocando de identidade, igual troco de roupa. Uma ideia que Bauman trabalha muito nessa modernidade líquida”, concluiu.
Sobre seu texto publicado no e-book, Lilian revela que fez questão de deixar a interpretação livre e o define como um ensaio, uma grande reflexão sobre a palavra escolhida. “A partir de uma reflexão sobre comunidade, passei a pensar em identidade. Os dois termos parecem antagônicos, mas são complementares. Não tem como fazer parte de uma coletividade, sem um autoconhecimento”, comenta.
20 Horas de Literatura
As palestras de 20 autores convidados para falar sobre 20 palavras significativas para o Brasil e o mundo nas últimas duas décadas têm transmissão ao vivo pela plataforma da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto (www.fundacaodolivroeleiturarp.com) e por suas redes sociais, como Facebook e YouTube. Toda a agenda conta com profissionais especializados em tradução e interpretação em Libras.
O evento, que acontece até a próxima sexta-feira (18), é uma ação comemorativa aos 20 anos da FIL (Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto). Os interessados em participar da programação podem ainda se inscrever pela plataforma e ao final do evento vão receber certificado online.